JOSÉ ANTONINO DE LIMA 
Calígula
Calígula


 

Caio Júlio César Augusto Germânico (em latim Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus; 31 de agosto de 12 d.C. - 24 de janeiro de 41), também conhecido como Caio César ou Calígula (Caligula), foi imperador romano de 16 de março de 37 até o seu assassinato, em 24 de janeiro de 41. Foi o terceiro imperador romano e membro da dinastia Júlio-Claudiana, instituída por Augusto. Ficou conhecido pela sua natureza extravagante e cruel. Foi assassinado pela guarda pretoriana, em 41, aos 29 anos. A sua alcunha Calígula, à qual significa "botinhas" em português, foi posta pelos soldados das legiões comandadas pelo pai, que achavam graça em vê-lo mascarado de legionário, com pequenas caligae (sandálias militares) nos pés.

Era o filho mais novo de Germânico que, por sua vez, era sobrinho do imperador Tibério. Germânico é considerado um dos maiores generais da história de Roma. Já a mãe de Calígula era Agripina. O futuro imperador cresceu com a numerosa família (tinha dois irmãos e três irmãs) nos acampamentos militares da Germânia Inferior, onde o pai comandava o exército imperial (14 – 16). Após a celebração em Roma do triunfo do seu progenitor, marchou com ele para o Oriente. Germânico viria a falecer durante a sua estadia em Antioquia, em 19. Após enterrar o seu pai, Calígula regressou com mãe e os irmãos para Roma, onde a incomodidade que a sua presença gerava no imperador degenerou em inimizade, causadora provável das estranhas mortes de uma série de parentes do futuro imperador, entre os quais, dois dos seus tios. As suas relações com Tibério pareceram melhorar quando este se mudou para Capri e foi designado pontifex maximus. À sua morte – a 16 de março de 37 –, Tibério ordenou que o império devia ser governado conjuntamente por Calígula e Tibério Gemelo.

Após desfazer-se de Gemelo, o novo imperador tomou as rédeas do império. A sua administração teve uma época inicial pontuada por uma crescente prosperidade e uma gestão impecável; porém, a grave doença pela qual passou o imperador marcou um ponto de inflexão no seu jeito de reinar. Apesar de que uma série de erros na sua administração derivaram numa crise econômica e numa fome, empreendeu um conjunto de reformas públicas e urbanísticas que acabaram por esvaziar o tesouro. Apressado pelas dívidas, pôs em funcionamento uma série de medidas desesperadas para restabelecer as finanças imperiais, entre as que se destaca pedir dinheiro à plebe.

Militarmente, o seu reinado esteve caracterizado pela anexação da província da Mauritânia (a cujo monarca assassinou numa das suas visitas a Roma), pelo insucesso na conquista da Britânia e pelas tensões que açoitaram as províncias orientais do império. No Oriente, deu amostras da sua graça mediante a concessão dos territórios de Bataneia e Traconítide ao seu amigo Herodes Agripa, e da sua megalomania ao ordenar que fosse erigida uma estátua na sua honra no Templo de Jerusalém; enquanto no Ocidente deu-as da sua demência ao pedir o exército que em vez de atacar as tribos britanas se pusesse a recolher conchas, o tributo que segundo ele essas águas lhe deviam ao monte Capitolino e ao monte Palatino.

Segundo determinados historiadores, nos seus últimos anos de vida esteve envolvido numa série de escândalos entre os quais se destacam manter relações incestuosas com as suas irmãs e até mesmo obrigá-las a prostituir-se. A 24 de janeiro de 41, foi assassinado pelos executores de uma conspiração integrada por pretorianos e senadores, e liderados pelo seu praefectus, Cássio Querea. O desejo de alguns conspiradores de restaurar a república viu-se frustrado quando, no mesmo dia do assassinato de Calígula, o seu tio Cláudio foi declarado imperador pelos pretorianos. Uma das primeiras ações de Cláudio como imperador foi ordenar a execução dos assassinos do seu sobrinho.

Existem poucas fontes sobreviventes que descrevam o seu reinado, nenhuma das quais refere de maneira favorável. Pelo contrário, as fontes centram-se na sua crueldade, extravagância e perversidade sexual, apresentando-o como um tirano demente. Embora a fiabilidade destas fontes seja difícil de avaliar, de acordo com o conhecido com certeza a respeito do seu reinado, trabalhou incansavelmente a fim de aumentar a autoridade do princeps; tendo de fazer face a várias conspirações surgidas com o objeto de derrocá-lo e lutando a fim de reduzir a influência do senado, esmagando a oposição que este órgão legislativo continuava exercendo. Tornou-se o primeiro imperador em apresentar-se frente do povo como um deus.

 

 

Família

 

Nascido com o nome de Caio Júlio César Germânico a 31 de agosto de 12 nas imediações de Anzio. Calígula era o terceiro dos seis filhos sobreviventes do matrimônio entre Germânico e Agripina. Os seus irmãos foram Nero e Druso, e as suas irmãs Júlia Livilla, Drusila e Agripinila. Por parte do seu pai era sobrinho do futuro imperador Cláudio.

Germânico, o seu pai, era um importante membro da dinastia Júlio-Claudiana; e é hoje em dia considerado como um dos maiores generais do Império Romano. Era filho de Nero Cláudio Druso e Antónia, a Jovem, neto de Tibério Cláudio Nero e Lívia; e sobrinho neto e filho adotivo de Augusto.

 

 

Juventude

 

 

Durante a sua infância (com apenas dois ou três anos) acompanhou o seu pai nas campanhas que este liderou a norte de Germânia; tornando-se o mascote do exército. Aos soldados divertia-os o fato de ir vestido com um uniforme militar em miniatura que incluía botas e armadura, e por isso deram-lhe a carinhosa alcunha de "Calígula" ("botinhas").Aparentemente, o futuro imperador odiava a sua alcunha.

Quando tinha sete anos acompanhou a Germânico a uma expedição a Síria. Nessa expedição faleceu o seu pai a 10 de outubro de 19. Segundo Suetônio, Germânico foi envenenado através de um agente contratado por Tibério, que via ao general como um perigoso rival político.

Após a morte do seu pai, mudou-se a Roma com a sua mãe até deteriorarem-se as relações entre ela e Tibério. O imperador não podia permitir que Agripina se casasse, por medo a que o seu marido se tornasse um possível adversário político, e ela e Nero César foram exilados em 29 sob cargos de traição. Calígula, que por essa época era um adolescente, foi enviado a viver com a sua bisavó e mãe de Tibério, Lívia. Após a morte de Lívia, foi acolhido pela sua avó Antônia. Em, Druso César foi encarcerado e Nero César faleceu no exílio, não é sabido se por inanição ou por suicídio. Suetônio escreve que após o desterro da sua mãe e os seus irmãos, ele e as suas irmãs ficaram como pouco mais que prisioneiros de Tibério, e submeteu-os a uma estreita vigilância por parte dos soldados imperiais.

Em 31, Calígula passou a fazer parte do pessoal encarregado dos cuidados de Tibério em Capri, onde o jovem permaneceu durante seis anos. Surpreendentemente, Calígula reconciliou-se com o imperador. Segundo certos historiadores era um excelente ator que, vendo o perigo, decidiu esconder o ressentimento que albergava para Tibério. Um observador disse de Calígula:

Nunca houve aqui um melhor servente ou um pior mestre.”

 

Em 33, Tibério concedeu-lhe o cargo de questor, que conservou até a sua nomeação como imperador. Por essa época faleceram em prisão Agripina e Druso, a sua mãe e irmão. Calígula contraiu matrimônio com Júnia Claudilla. Este matrimônio terminou com a morte de Júnia durante um parto no ano seguinte. Tornou-se amigo do praefectus, Névio Sutório Macro, que resultaria ser um importante aliado. Incitado por Calígula, Macro falou bem a Tibério a respeito do seu amigo de modo a que o imperador não albergasse para o filho do seu velho rival nenhuma suspeita. Em 35, Calígula e Tibério Gemelo foram designados herdeiros ao trono.

 

 

Início do seu reinado

 

 

Quando Tibério faleceu a 16 de março de 37, a sua posição e títulos adquiridos como princeps foram transferidos a Calígula e ao neto de Tibério, Tibério Gemelo. Apesar de Tibério ter então 77 anos, alguns historiadores defendem que foi assassinado. Tácito escreve que o praefectus Macro asfixiou o imperador a fim de garantir a ascensão de Calígula; Suetônio afirma que até mesmo o novo herdeiro pôde ter sido o autor do assassinato. Pela sua vez, Fílon e Josefo registram que Tibério faleceu por morte natural. Respaldado por Macro, Calígula foi designado imperador em solitário ao anular o testamento de Tibério alegando demência deste ao outorgá-lo.

Calígula aceitou todos os poderes do Principado que lhe conferiu o senado e, quando entrou em Roma a 28 de março, foi recebido por uma grande multitude que o aclamou entre outros com as alcunhas de "o nosso bebé" e "a nossa estrela" É descrito como o primeiro imperador que, no momento da sua ascensão, era apreciado por todos. Este apreço era devido ao fato de ser o filho do finado Germânico, muito amado pela plebe, bem como o sucessor de Tibério, cuja época final no trono fora terrível para o povo romano. Segundo Suetônio foram sacrificados cerca de 160.000 animais na sua honra durante os três primeiros meses do seu reinado. Segundo Fílon, os primeiros sete meses do reinado de Calígula foram dos mais felizes que experimentara o Império em muito tempo.

Os primeiros atos de Calígula como imperador foram generosos com o povo e o exército embora, segundo Dião Cássio, fora em parte devido a simples interesses políticos: O imperador concedeu à guarda pretoriana e às tropas urbanas e fronteiriças uma generosa recompensa pelos serviços prestados, a fim de ganhar o apoio do exército. Destruiu os documentos nos quais ficaram registrados os nomes dos acusados de traição durante o mandato de Tibério, declarou que os juízos por traição eram coisa do passado e chamou para Roma os exilados. Ajudou os afetados pelo sistema de impostos imperial, desterrou os delinquentes sexuais e celebrou luxuosos espetáculos, tais como os combates de gladiadores, ganhando assim o apoio do povo. Também recolheu os ossos da sua mãe e os seus irmãos e depositou-os no Ara Pacis.

 

 

 

Enfermidade, conspirações e câmbio de atitude

 

Fazendo realidade um auspício formulado em princípios do seu reinado, Calígula caiu gravemente enfermo em outubro de 37. Esta doença é descrita nomeadamente pelo historiador Fílon,.Dião Cássio também a menciona brevemente na sua obra. Segundo Fílon a sua doença devia-se a que Calígula, após ser nomeado imperador, tornou-se amigo demais dos excessos. O império ficou paralisado ao receber a notícia da doença, pois o seu jovem monarca levara-os para um período de prosperidade que diziam equiparável ao de Augusto. Embora Calígula conseguisse recuperar-se por completo desta doença, o estar tão perto da morte marcou um ponto de inflexão no seu modo de reinar, tal qual indica Josefo.

Após recobrar a saúde, Calígula ordenou assassinar várias pessoas que prometeram as suas vidas aos deuses se o imperador se recuperava. Forçou a cometer suicídio àqueles exilados durante o seu reinado: a sua esposa; o seu sogro, Marco Silano; e o seu primo, Tibério Gemelo.

Fílon escreve que Gemelo instigou uma conspiração contra Calígula enquanto o imperador estava enfermo. Antes de se suicidar, Silano foi julgado por Calígula pois Júlio Grecino, o encarregue de justiçá-lo num primeiro momento, recusou, sendo executado por isso. Suetônio crê que estes complôs eram pura imaginação do imperador.

 

 

Reformas públicas

 

 

Em 38, a administração de Calígula focou-se nas reformas públicas e políticas que precisava o império. Foi publicado um documento com os registros das despesas que realizara o imperador, algo nunca feito durante o reinado de Tibério; os afetados pelos incêndios foram ajudados; foram abolidos certos impostos; e impulsionados os eventos desportivos. Também foram admitidos novos membros nas ordens senatorial e equestre. Talvez o mais significativo deste período seja a volta das eleições democráticas. Dião Cássio disse desta decisão do imperador que:

Embora causasse o deleite da plebe, não era um ato sensato, pois as oficinas voltariam a cair uma vez mais nas mãos de muitos, fazendo que os fundos se empregassem para fins privados em lugar de obter renda, do qual derivariam muitos desastres.”

 

Durante este mesmo ano, Calígula foi duramente criticado por ordenar execuções sem juízo prévio. A mais significativa foi a do ex prefeito do pretório Sutório Macro, a quem em muitos sensos Calígula devia o trono.

 

 

 

Crise econômica e fome

 

Segundo Dião Cássio, o império teve de fazer face a uma grave crise econômica em 39. Suetônio estabelece o começo da crise em 38. A política de Calígula, pontuada pela generosidade e a extravagância, esgotou as reservas financeiras do Império. Os historiadores antigos afirmam que Calígula reagiu acusando falsamente alguns senadores e cavaleiros para os multar e até mesmo executá-los com o propósito de se apoderar do seu patrimônio. Com o objeto de fazer face à crise, Calígula pôs em funcionamento uma série de medidas desesperadas, algumas das quais são descritas pelos historiadores; como pedir dinheiro ao povo nos atos públicos. Estabeleceu novos impostos nos juízos, casamentos e prostíbulos, e implementou leilões pelas vendas dos gladiadores nos espetáculos. Os testamentos de cidadãos romanos que deixavam os seus bens a Tibério foram reinterpretados de modo a que Calígula recebesse esses bens. Os centuriões que adquiriram propriedades durante saques foram obrigados a devolver a sua pilhagem ao Erário, e os oficiais responsáveis pelo cobro dos impostos relativos ao uso de calçadas foram acusados de incompetência e malversação, e multados duramente.

Talvez fosse esta crise econômica a causadora de uma breve fome de grandes dimensões que açoitou o império por essa época, embora os historiadores clássicos difiram nas suas opiniões: Segundo Suetônio, era devida a que Calígula confiscara a maioria de carruagens públicas. Segundo Sêneca, o motivo foi que Calígula impediu o uso de barcos para o transporte de cereais para os utilizar como ponte flutuante.

 

 

Urbanismo

 

Apesar da crise econômica, Calígula efetuou numerosos projetos de construção durante o seu reinado. Alguns destes edifícios eram públicos, mas a maioria foram erigidos com um fim privado.

Segundo Flávio Josefo, os projetos mais importantes realizados durante o reinado de Calígula foram as ampliações dos portos de Regium (atual Reggio di Calabria e Sicília. Após efetuar tais obras, foi possível aumentar o volume de cereais embarcados desde o Egito. Estas reformas talvez fossem realizadas em resposta ao episódio de fome.

Foram completados o Templo de Augusto e o Teatro de Pompeu, começou a construção de um anfiteatro nas imediações da Saepta, e foi reformado o Palácio Imperial.  Começaram a construir o Aqua Claudia e o Anio Novus, aquedutos que Plínio o Velho considerava maravilhas da engenharia. Foi erigido um grande circo, conhecido como o Circo de Caio e Nero. Para decorar este edifício, foi transportado um grande obelisco da província do Egito, o atual Obelisco Vaticano, que foi erigido no seu centro. Em Siracusa, foram reparadas as muralhas e os templos da cidade. Foram construídas novas estradas e reparadas as antigas. O imperador também planejava reconstruir o palácio de Polícrates de Samos, terminar o Templo de Apolo Didimeu em Éfeso e fundar uma cidade no cume dos Alpes. Contudo, o mais ambicioso dos projetos que Calígula quis efetuar foi o de escavar um canal através do Istmo de Corinto, na então província romana da Acaia (atualmente Grécia).

Em 39, Calígula efetuou um espetaculoso trabalho de engenharia; construiu uma ponte flutuante temporária que ligava os portos de Baiae e Puteoli empregando barcos. Tem-se escrito que esta ponte rivalizava com a que ergueu o Rei Persa Jerjes I a fim de cruzar o Helesponto.Calígula, que não sabia nadar, atravessou o rio em lombo do seu cavalo, Incitatus, e portando a armadura de Alexandre o Grande. É provável que o imperador realizasse isto a fim de cumprir a predição de Tibério Cláudio Trasilo, que dissera que ninguém tinha mais possibilidades de se tornar imperador que aquele que cruzara a cavalo a Baía de Baiae.

Ordenou a construção de duas enormes embarcações, as quais foram encontradas nas profundezas do Lago de Nemi. Estes dois barcos figuram entre os maiores do mundo antigo; o menor de eles foi construído com o fim de albergar um templo consagrado a Diana, enquanto o maior era em essência um palácio para o imperador, com solos de mármore e o seu próprio sistema de canharias.

 

 

Calígula, o deus

 

Em 40, Calígula desenvolveu uma série de políticas muito controvertidas que fizeram da religião um importante elemento do seu papel político. O imperador começou a realizar as suas aparições públicas vestido de deus e semideus, como Hércules, Mercúrio, Vênus e Apolo. Referia a si mesmo como um deus quando comparecia ante os senadores, e ocasionalmente aparecia nos documentos públicos com o nome de Júpiter. Erigiu três templos adicados a si mesmo; dois em Roma e um em Mileto, na província da Ásia. No Fórum, o Templo de Castor e Pólux foi vinculado diretamente à residência imperial no Palatino e dedicado a Calígula. Foi a esta época que começou a aparecer como um deus frente da plebe.

A política religiosa de Calígula rompia totalmente com a dos seus predecessores. Segundo Dião Cássio, os imperadores vivos podiam ser adorados no Oriente, enquanto os imperadores mortos o podiam ser em Roma. Augusto até mesmo escreveu uma obra a respeito do seu espírito, embora Dião considere este ato como uma medida extrema que os imperadores preferiam esquivar. Calígula foi muito mais além ao obrigar o senado e o povo a render-lhe culto em vida.[

 

 

Escândalos

 

As fontes sobreviventes oferecem um importante número de histórias a respeito de Calígula que ilustram a sua crueldade e a sua demência.

As fontes contemporâneas, Fílon de Alexandria e Sêneca, o Moço, descrevem o imperador como um demente irascível, caprichoso, derrochador e enfermo sexual. Era acusado de alardear de se acostar com as mulheres dos seus súditos, de matar por pura diversão, de provocar uma fome ao gastar demais dinheiro na construção da sua ponte, e de querer erigir uma estátua de si mesmo no Templo de Jerusalém com o objeto de ser adorado por todos.

Fontes posteriores, entre as que se destacam Suetônio e Dião Cássio, repetiram nos seus relatos os fatos indicados por autores anteriores e acrescentaram novas histórias de loucura. Calígula foi acusado de manter relações incestuosas com as suas irmãs:Agripina a Menor, Drusila e Júlia Livilla. Seutônio o descreve com tendo:"Estatura alta,corpo enorme,de pescoço e pernas delgadas.Olhos fundos,fronte larga e carrancuda e cabelos raros e alto da testa desguarnecido.Tinha corpo cabeludo e rosto horrível e repelente,e ele procurava torná-lo cada vez mais feroz,ensaiando diante de um espelho,para inspirar terror e espanto". Também se disse que as obrigara a prostituir-se. Além disso, estes historiadores acusam de enviar algumas tropas a efetuar exercícios militares absurdos, e de tornar o palácio num bordel. Provavelmente a história mais famosa é a que conta que o imperador quis nomear o seu cavalo, Incitatus, cônsul e sacerdote.

A validez destas fontes é questionável pois, na cultura política romana, a demência e a perversão sexual iam da mão nas crônicas que descreviam os maus governantes.[

 

Assassinato e consequências

 

As fontes antigas descrevem o reinado de Calígula como um açuite para as ordens senatorial e equestre. Segundo Josefo, as ações do imperador desencadearam uma série de conspirações na sua contra, até finalmente ser assassinado; no mesmo, viram-se envolvidos os integrantes da guarda pretoriana, liderados por Cássio Querea.Embora o complô fosse concebido somente por três homens, é provável que muitos senadores, soldados e equites estivessem à par do mesmo e, de certa forma, envolvidos.

Segundo Flávio Josefo, as motivações de Querea para cometer o assassinato eram puramente políticas. Suetônio escreve que o motivo do assassinato foram as zombarias de Calígula, que usava nomes pejorativos para se referir a Querea, ao que considerava um afeminado e um arrecadador de impostos incompetente. As alcunhas mais empregues pelo imperador para se referir ao praefectus eram Priapo e Vênus.

A 24 de janeiro de 41, Querea e alguns pretorianos abordaram Calígula enquanto ele se dirigia a um grupo de novos atores que participavam de jogos. Os pormenores a respeito deste acontecimento variam ligeiramente de um escritor a outro, mas todos coincidem em que Querea foi o primeiro a apunhalar o imperador, seguido pelo restante de conspiradores. Suetônio assinala as similaridades entre o assassinato de Calígula e o de Júlio César. O historiador escreve que o velho Caio Júlio César (Júlio César) e o novo Caio Júlio César (Calígula) foram assassinados por 30 conspiradores liderados por um homem chamado Cássio (Cássio Longino e Cássio Querea). Quando os guarda-costas germanos do imperador se deram conta de que Calígula estava sendo atacado, este já era morto. Cheios de raiva e dor, os germanos responderam assassinando conspiradores, senadores, transeuntes e inocentes por igual.

O senado tratou de usar a morte de Calígula para restaurar a república e, pela sua vez, Querea tentou convencer o exército para que apoiasse os senadores. Porém, os militares permaneceram leais à figura do imperador, e a plebe unanimemente pediu que os assassinos de Calígula fossem levados frente da justiça. Vendo-se sem apoios, os assassinos apunhalaram a mulher de Calígula, Milônia Cesônia, e à sua filha, Júlia Drusilla, a quem romperam o cranio ao bater a cabeça contra um muro. Contudo, foram incapazes de encontrar o tio de Calígula, Cláudio, que fugiu da cidade. Após ter-se assegurado o apoio da Guarda Pretoriana, Cláudio foi designado imperador e, nada mais aceder ao trono, o tio de Calígula ordenou a execução dos assassinos do seu sobrinho. Segundo Suetônio, o corpo do imperador foi escondido até poder ser incinerado e sepultado pelas suas irmãs. Permaneceu no Mausoléu de Augusto até que, em 410, durante o saque de Roma, as suas cinzas foram espalhadas.

 

Demência

 

Exceto Plínio o Velho, todas as fontes sobreviventes descrevem a Calígula como um louco. Porém, não se sabe se estão falando literal ou figuradamente. Além disso, é difícil separar a realidade da ficção levando em conta a impopularidade do imperador entre essas fontes. Os historiadores modernos trataram de atribuir uma razão médica ao seu instável caráter, alegando a possibilidade de que padecera encefalite, epilepsia ou hipertiroidismo; fala-se de adiatrepsia, uma palavra grega que o imperador aplicou para descrever a sua própria conduta.

Fílon de Alexandria, Flávio Josefo e Sêneca, o Moço descrevem Calígula como um demente, mas alegam que esta loucura era resultado da experiência dos anos. Segundo Sêneca, o imperador transformou-se num homem arrogante, iracundo e grosseiro na sua ascensão ao trono. Josefo pensa que foi o poder que tornou Calígula um arrogante, fazendo-lhe acreditar que era um deus. Pela sua vez, Fílon defende que a sua personalidade experimentou um radical câmbio quando esteve prestes a falecer de uma doença. Segundo Juvenal, o imperador bebeu uma poção que o tornou louco.

 

Epilepsia e hipertiroidismo

 

Suetônio escreve que Calígula padeceu epilepsia quando era novo. Os historiadores modernos teorizaram que o imperador vivia com um profundo e contínuo medo a sofrer um ataque associado à sua doença. Apesar de que aprender a nadar era parte da educação imperial, o imperador não o fez, pois os epilépticos podem sofrer ataques causados pela luz que se reflete na água. Também é dito dele que falava com a lua cheia, e a lua é relacionada ocasionalmente com a epilepsia. Muitos historiadores defenderam que Calígula padecia hipertiroidismo. Este diagnóstico é baseado na irritabilidade e na "olhada" do imperador, descrita por Plínio o Velho.

 

 

 

 

Fonte: www.wikipedia.org